Postagens

CONTO OU POEMA?

    Acordo animada     Como uma fatia de panetone gourmet     e logo depois,     Consciência pesada,     Me exercito na esteira     uns pesinhos para os braços     abdominal, muito,     ( fatia de panetone umas 250 calorias     é mole?)     não quero barriga estufada     e muito menos quilos a mais     Etapa seguinte:     uma ducha com acessórios perfumados     adoro óleos trifásicos e cremes     visto uma roupa bonita     passo um batom      me sinto bonita     Me preparo para enfrentar o dia     quem sabe, dessa vez,     Encontro o tal de Noel     que me segue desde tempos idos.            

DONA MOÇA

Dona Moça bateu pé e alardeou: Daqui não saio até ela me receber. E plantou-se na portaria do prédio. A moradora foi avisada. Um dia foram amigas, quase chegando a um compadrio. Mas, o tempo se encarregou de desgastar esse forte companheirismo, que um dia existiu.  Em conluio com o porteiro, a moradora só saía de casa nas idas ao banheiro de Dona Moça. E assim passaram-se alguns dias. O porteiro, com pena e solidário, ajudava como podia. Primeiro veio com um cafezinho fumegante, e dois pãezinhos, no outro dia com um prato de comida, numa noite com salgadinhos e cerveja, e por fim lhe ofereceu a cama. Estão juntos até hoje.

UMA ARANHA NO BOX

Entrei leve e solta no box para um banho rejuvenescedor. A ideia era hidratar o cabelo, enquanto me ensaboava com o sabonete francês, o óleo marroquino, e a esponja felpuda italiana. Só faltei assoviar. O tempo chuvoso e frio convidava. Ao realizar a primeira tarefa, que era o xampu, para logo depois colocar o hidratante, me deparei com ela, tentando subir pela paredes do azulejo. Gritei, claro, sapateei de nojo, medo, e, pelada, com as banhas balançando, saí quase que voando rumo a vassoura que costumo colocar atrás da porta. Lembrem-se que o  tempo estava frio. Mas, a emoção do momento me manteve quente. Pequei a vassoura e voltei ao box determinada a dar cabo da maldita. Brandia a vassoura e gritava palavras de ordem. Abati-a de um golpe só. Era grande a danada. Restos mortais da ardrópode  escoaram pelo ralo e eu pude me deliciar com a água quente que cobria o meu corpo, me deixando cheirosinha para outros olfatos. 

AH RITA, ATÉ VOCÊ?

Santa Rita de Sampa sempre irreverente, sempre genial A Rita das cambalhotas do lança-perfume no cangote que gostava de bailar a atriz palhaça preferida das crianças e dos marmanjos também luz maior em todas as ribaltas a noiva do subúrbio mutante sempre Rita que também era Lee e Jones sedutora irreverente genial artista maior  e como Elis, Gal e tantas outras fadas cantantes virou estrela.  

UM OLHAR SOBRE O AMANHÃ

                              Ana Elisa e Jorge se conheciam desde crianças. Foram da mesma escola, moravam no mesmo bairro e aos dez anos de ambos Jorge pediu-lhe a mão em casamento. Ela assentiu e marcaram o casamento para dali a dez anos. Formaram-se em Pedagogia, casaram-se logo depois. Planos para o futuro tinham em excesso: formar uma família, três filhos, comprar a casa própria e ter a sua própria escola, pequena e com muita qualidade de ensino. Uma escola nos moldes de Oga Mitá, surgida no final dos anos 70, fruto de um projeto de jovens amigos que sonhavam uma escola fora dos moldes tradicionais. Inspiravam-se em Summerhill, na Inglaterra, considerada a escola mais democrática no mundo, onde se aprendia, sendo. Cursavam o último ano de Pedagogia na Universidade Santa Úrsula, quando a professora falou com entusiasmo sobre a Escola Oga Mitá, na Rua Maxwell, em Vila Isabel. Dado o entusiasmo dos alunos, a visita foi marcada para o dia seguinte.  Era uma casa simples, com um pát

ENCONTRO NO MERCADO

  Nos encontramos no estacionamento de um grande supermercado. Abri os braços e falei alto, sorridente e feliz ao vê-los: “como vai esse casal mais lindo?” Eles, naturalmente lisonjeados, me responderam e me causou estranheza a frase que veio logo após os rapapés iniciais, proferida pela mulher. “Você sabia que eu fui ao Japão?” pausei, e respondi, - “não”. Aliás, como iria saber? Raramente a vejo. E a mulher começou a descrever a viagem de seus sonhos. Enquanto ela falava, me dei conta que eu analisava esse tipo de comportamento. O que leva uma pessoa com quem você não tem nenhuma intimidade em começar uma conversa assim. Arrogância? falta do que falar? Para mim, ela ter ido ao Japão ou à Bahia, não faria a menor diferença. Aliás, você já foi à Bahia? Não? Então vá.