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Mostrando postagens de maio, 2010

MOLEQUE

Moleque, rei de Botafogo, nobre em quatro patas com juba de leão amarelada com riscas pretas. Altivo e elegante liderava uma matilha de vira-latas simpáticos que rodavam por nosso quadrilátero urbano. Nunca o vi latir ou brigar com outro cachorro. Um líder de primeira que se impunha pela atitude. Comportava-se com discrição nos bares onde seu dono ia tomar o café da manhã ou a cervejinha da tarde. Sentava-se no chão, com as patas dianteiras cruzadas e observava o movimento da rua. Se o dono ficasse horas no bar,  ele ficava também. Não tinha pressa, nem ele nem o dono. Na minha fantasia, queria-o eterno. Mas vi seus olhos perderem o brilho e um dia pressenti a chegada de sua morte. Viveu muito esse rei sem cetro, sua presença impregnada em cada pedra portuguesa por onde andava majestoso.

CHÈRIE

Ela se foi num dia quente de outubro, 14, minha pequenina muito querida. Aos poucos sua vida foi minguando. Eu, platéia, assistia a tudo, desesperada, não querendo aceitar sua doença, muito menos a chegada de sua morte. Dias antes ela estava tão bem, ou foram anos antes? Não sei, cachorros vivem tão pouco. Na minha cabeça imagens se duplicavam, minha vida entrelaçada com a dela. Sua presença na casa, ainda imperiosa, me desnorteava. Para aliviar a minha dor, me desfiz de seus pertences, seu cheiro impregnado em cada pequena coisa. Subitamente, veio o vento anunciando a chuva que caiu forte minutos depois, encharcando as plantas na varanda e entrando pelas janelas do apartamento. A natureza em luto. Meu coração flechado, sangrava, uma pontada maior e cai sentada no chão exaurida. Não havia mais lágrimas, no entanto, a tristeza insistia em ficar. No dia seguinte, ainda anestesiada, chamei-a. O tempo de espera foi infinito, ela não veio. Com a garganta seca e o choro deslavado me refug