CHÈRIE
Ela se foi num dia quente de outubro, 14, minha pequenina muito querida.
Aos poucos sua vida foi minguando. Eu, platéia, assistia a tudo, desesperada, não querendo aceitar sua doença, muito menos a chegada de sua morte. Dias antes ela estava tão bem, ou foram anos antes? Não sei, cachorros vivem tão pouco. Na minha cabeça imagens se duplicavam, minha vida entrelaçada com a dela.
Sua presença na casa, ainda imperiosa, me desnorteava. Para aliviar a minha dor, me desfiz de seus pertences, seu cheiro impregnado em cada pequena coisa. Subitamente, veio o vento anunciando a chuva que caiu forte minutos depois, encharcando as plantas na varanda e entrando pelas janelas do apartamento. A natureza em luto. Meu coração flechado, sangrava, uma pontada maior e cai sentada no chão exaurida. Não havia mais lágrimas, no entanto, a tristeza insistia em ficar.
No dia seguinte, ainda anestesiada, chamei-a. O tempo de espera foi infinito, ela não veio. Com a garganta seca e o choro deslavado me refugiei no banheiro.
Manon me olhava, ela também triste, sentindo falta da mãe-companheira. Ficamos as duas, sobreviventes daquela tempestade encolhidas até a tormenta passar.
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