O REI E SEUS FILHOS

Era uma VEZ, num reino muito grande e distante, localizado num continente, um tanto desprezado pelo seu atraso educacional, civilizatório e progressivo, onde a corrupção corre solta e os abismos sociais são devastadores, um capitão ascendeu ao trono máximo daquela nação, uma vez que o monarca recém-falecido não possuía herdeiros, e o capitão era seu auxiliar direto. Embora não fosse lá grande coisa na corte, onde suas ideias cheias de preconceito e seu jeito caipira só agradavam mesmo ao rei, o capitão, de uma hora para a outra se viu alçado a autoridade máxima do reino, sob a proteção das autoridades militares, que o preferiam a qualquer outro que mostrasse inteligência e desenvoltura política. Achavam os militares, que o capitão seria fácil de manipulação. Esqueceram dos herdeiros 01, 02, 03, de sangue quente, arrogantes e destemidos.
Para bem da verdade, o capitão apregoava que acabaria com a corrupção, e que sua corte seria formada por técnicos e não por políticos ávidos em encher os bolsos. E o povo não aguentava mesmo tanta corrupção, tanto descalabro.
 Os intelectuais, os artistas, os professores e a mídia ficaram apreensivos. O novo rei era autoritário, odiava ser contrariado e não admitia, por nenhuma hipótese se cercar de pessoas que não pensassem como ele. 
O reino estava no abismo total. A corrupção e os mal feitos do monarca falecido não deixaram pedra sob pedra.  As elites iam bem obrigado, recolhendo dízimos e benefícios da população que agonizava com a falta de escolas e hospitais. O custo para se viver neste reino era alto. A família real cobrava taxas entre 40 a 50% de tudo que se consumia no reino. Enchiam seus bolsos e não sobrava dinheiro para a população mais necessitada. A cada dia, a cada ano, o povo ficava mais ignorante, e se agarrava às palavras dos pastores e padres para aguentarem o rojão. "Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles será o reino de deus". O novo rei aproveitou a deixa e lançou, Meu reino acima de tudo e Deus acima de todos. E acreditaram nele.
No dia da coroação, a jovem mulher do novo rei encantou a multidão. Bonita e simplória, usou a linguagem de libras em respeito aos que não podiam ouvir o discurso do marido. Roubou a cena. A população amou e abraçou a nova rainha. A verdade é que estavam carentes de mulher assertiva na corte. A viúva do monarca falecido, também bela, pouco aparecia, diziam que o falecido tinha tanto ciúmes dela, que preferia mantê-la em cativeiro.
Para explicar o nascimento de sua única filha, o capitão enamorado de sua mulher, gostava de dizer, “depois de 4 machos, dei uma escorregada e nasceu uma filha.” Os baba-ovos aplaudiram, porém,  as feministas e a esquerda caíram em cima dele,  mas eu não o sacrifiquei. Entendi a piada. Aliás, o capitão tem senso de humor, mas para entendê-lo o sujeito precisa compreender o contexto.  Eu só entendi a piada em relação à filha. Lembrou-me Ciro Gomes, um político da ala contrária, no auge de seu amor por Patrícia Pilar, uma atriz famosa, disse “a minha companheira tem um dos papeis mais importantes que é dormir comigo”. Ih, isso deu o que falar, e Patrícia, a própria, veio a público dizer que o dito era piada, o jeito de ser de Ciro. Eu também entendi o Ciro. Mas, de novo, a turminha ressentida e ávida para acharcar o outro, pôs a boca no mundo.
As outras piadas, ou comentários foram feios, mas não vou replicá-los. Todos sabemos, e uau, tem gente que aplaude e vibra.
A corte empossada deu o que falar: alguns ministros foram aplaudidos pelo povo, um o paladino da justiça e o outro da economia. E, pobre novo rei, sem muito conhecimento da corte, errou feio em outras escolhas.
No entanto, um ciclo de desgraças se abateu sob  o reino. Incêndios pipocaram de norte a sul, barragens foram rompidas levando à morte centenas de pessoas, índices altíssimos de feminicídio, violência explícita por todo o canto, a população não vive, não anda em paz nas ruas dessa República de Bananas, e então o rei teve a ideia brilhante de armar a população. Colocou alguns obstáculos, mas quem vive aqui, sabe que não vai adiantar nada. Quem quiser arma, terá. Espera-se morticínio em penca para os próximos anos. Quem viver, verá, espero não estar mais aqui. Esse povo, beligerante como é, numa simples discussão no bar, ou no transito, vai sacar a arma e matar o outro, aliás, já é o que a polícia faz, e os bandidos também, quando querem uma bicicleta ou um celular e o cidadão demora a entregar.
O povo está apreensivo. No ar, um ambiente estranho, muita violência, muito preconceito, racismo, os guardiães 01,02,03 falam cada coisa de arrepiar, achando que quem governa são eles, o rei também tem sua quota de incitamento à violência, e amigos estrangeiros que moram no reino têm medo do que possa a vir acontecer no futuro. Já passaram por guerras, e são unânimes em dizer que estão vendo no reino das bananas, a mesma situação. 
O futuro é mesmo incerto. Há um cheiro de fascismo no ar. O novo rei elogia ditadores e torturadores, e achincalha a esquerda com palavras ofensivas e debochadas. Há pessoas dignas na corte, não são todas farinhas do mesmo saco, mas a população, sem referência, mostra o seu pior todos os dias. Vamos ver o que acontece.



Comentários

  1. e assim caminha o reino, na incerteza. Pobres dos que ainda acreditam em milagres. Os bons candidatos a rei estão em falta. Gostei da sua descrição do reino.

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  2. Ótima descrição do Reino. Acho até que você foi condescendente em alguns aspectos.

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    1. Obrigada, se fosse escrever agora, pegaria mais pesado, porq a cada dia tudo piora.

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  3. Um retrato assustadoramente verdadeiro da
    tragédia que vive este Reino de Bananas.

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