Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2019

ERA UMA VEZ UM REI.

O convite para trabalhar num museu tão importante pela sua história e tradição veio a calhar. Estava desempregada, contas atrasadas a pagar, emagrecendo a olhos vistos para alimentar o meu filho, enfim, no caos instalado na minha vida, o júbilo por terem se lembrado de mim compensou a dor constante do estomago vazio. O prédio imponente ocupava quase um quarteirão. Estava mal cuidado, como quase tudo no país, mas ninguém se importava muito. Para falar a verdade, o museu era frequentado por muito poucos, e a maioria da população, pobre e semi-analfabeta não estava nem aí para a cultura e as artes. O país entrava no obscurantismo intelectual e artístico. Fui recepcionada pelo diretor, logo no grande hall de entrada, com cacos espalhados pelo chão. Não ousei perguntar o motivo,chega de desgraças. Levou-me à sala onde seria o meu espaço de trabalho. Sala pequena, simples, mesa, computador, impressora, cadeira e uma estante contendo livros de Antropologia, e Biblioteconomia. Havia uma j

O ABRAÇO NO CHICO BUARQUE

Para Chico Buarque de Hollanda. A sala era ampla. Poderia ser um galpão ou estúdio. Em cima de uma mesa pequena, retangular, um livro sobre Antonio Carlos Jobim. Um marcador sinalizava que o leitor estava no fim do livro, que por sinal era grosso. Peguei-o e ao começar a folheá-lo ouvi uma voz ao longe, dizendo, "esse livro tem dono". Não foi falado em tom agressivo, diria que até tinha humor. E a voz, pra lá de familiar. Uma voz que ouço há 50 anos, em diferentes nuances. Virei-me e lá estava ele, Chico Buarque, sorrindo, os dentes da frente separados, e jovem, tão jovem quanto eu. Não entendi nada, só sei que corri e me joguei nos seus braços. Recebeu-me em concha de afeto e reconhecimento. Por alguns segundos não acreditei no que estava acontecendo, e deixei-me ficar. Depois, tal e qual uma metralhadora giratória fui falando da sua trajetória, tão entrelaçada com a minha, das alegrias que suas canções me davam, e só o fato de sabê-lo vivo, me deixava feliz. Como p