balaiodecontos

  Olhou para a calcinha e se apavorou: -  Que rio de sangue é esse? Sensação danada de difícil de descrever. Sabia que um dia, isso ia acontecer. Ficar mocinha. Na escola tinham até apostado para ver quem ficava primeiro. Todas queriam, menos ela. Estava bom como estava. Só que quando veio, foi à sua revelia. Gostava de ser criança. Peter Pan de saias. Não estava preparada para o primeiro salto. Mas, saltou e foi aos trancos e barrancos que ultrapassou etapas. Na última, tirou de letra. Sem remorsos.

Foi no vestiário da academia de ginástica que Maria Lúcia soltou o petardo: - Maria Cristina, como você está magra? Que que aconteceu? - Eu? ?? Estou com o mesmo corpo!!! Maria Lúcia indiferente ao estrago que produziu na mente de Maria Cristina, entrou no chuveiro e fechou a porta. Nisso entrou Maria Eduarda que foi logo interpelada por Maria Cristina. - Maria Eduarda, você acha que estou mais magra? - Não, você está como sempre esteve: corpaço e dona de pernas adjetivas. Aliás, quem me dera ter suas pernas. Você não acha, Maria Fernanda - que estava fazendo escova nos cabelos, e até então muda - que Maria Cristina está igual: nem mais nem menos magra? - Acho, e hoje em dia o politicamente correto é não falar coisa alguma sobre a aparência das pessoas. - Ah, mas assim é demais, retrucou Maria Cristina. Se é para levantar o astral, acho que tem que falar. - Então, vai ver que foi isso que Maria Lúcia fez. Comentou que você estava mais magra pra te agradar. Quem é que gosta de ouvir que

- Garoto, não como mais. Todo mundo que  estava na piscina do prédio ouviu Carla Regina, em alto e bom som. As mães dos adolescentes se entreolhavam. Então, a fofoca envolvendo ela e Carlos Henrique era verdadeira. Se bem que Carlos Henrique não era propriamente um garoto. 23 anos, estudava e trabalhava. E Carla Regina um pouco mais velha do que ele - 25. Todavia, as mães sabiam que ela fazia o maior sucesso entre a garotada. Caio e César, gêmeos, disputavam quem seria o primeiro a receber beijinhos dela, e só tinham nove anos. Igor vivia falando de suas pernas e já tinham visto o pintinho de Luís Antônio subir quando num descuido na piscina os seios dela pularam para fora do biquíni.  Reunião das mães, muito apreensivas. - Se ela não come mais garotos, vai comer quem? - Nossos maridos. - Nossas filhas. Foi um deus nos acuda. Sossegaram quando ela tirou um chocolate belga da bolsa e proclamou: O melhor chocolate do mundo. Agora só como esse.

palavras que sangram de inocentes e desvairados 

um transatlântico prestes a afundar em águas atlânticas 

  no silêncio da noite a bala perdida vaza a parede e se esconde no seu coração

  coisa estranha a morte o morto vive na saudade o vivo morre de saudade

ajoelhou-se e comeu os restos de um banquete para logo depois moribundo e feliz morrer de barriga cheia 

tinha um espinho cravado no peito e quando conseguiu tirar sangrou até morrer 

faminta de amor cisca migalhas vomitadas por aves de rapina

o vento súbito prenuncia pingam lágrimas com gosto de cio é verão 

bate e castiga a natureza em festa canta e dança

o  barco à vela leva pelo mar meus sonhos de menina 

embalada pelas ondas deixei-me levar para o fundo do mar 

Bate coração é uma vida que teima em viver 

  qual vela incandescente vai queimando por inteiro até o pavio se extinguir

é um tic-tac perene que se não falhar no meio do caminho um dia pára de vez 

ais sensuais do verão enchem de tesão praias lotadas choram meus ais do coração 

do vento beijando a terra flores brotam sementes florescem 

O menino sorriu pro sol no poente na ponte sobre o rio 

  nasce o sol se esconde a lua nasce a lua se esconde o sol eis o casamento perfeito

A sala iluminada fica pela luz do teu olhar