O AVÔ E SEU NETO




Os dois se aproximaram dos livros expostos na bancada central da livraria. Entraram um pouco receosos com a sofisticação do lugar, eles que eram pessoas tão simples. Executivos falando ao celular, moças bonitas, perfumadas e elegantes folheando revistas enquanto sorviam cafés incrementados, sentadas nas mesas ao fundo, crianças bem vestidas  acompanhadas de seus pais escolhendo coloridos livros infantis e atendentes com caras entediadas andando de um lado para o outro, mostrando a eficiência do não fazer nada. Mesmo assim, os dois outsiders venceram a timidez e se aproximaram da estante de livros juvenis. O avô escolheu um ao acaso e se postaram em frente a uma mesa de quatro lugares ocupada por uma jovem ouvindo música no Ipod enquanto teclava furiosamente o seu laptop. Ao redor da mesa e das cadeiras, mochila, celular e alguns cadernos. Sem saber o que fazer para chamar a atenção da moça, optaram por aguardar para ver se ela se dava conta que eles desejavam se sentar. Ela percebeu, e a contragosto cedeu lugar. Os dois, silenciosamente, começaram a desvendar os mistérios do livro. A conversa entre eles era baixa e de extrema cumplicidade. O avô falava e o menino ouvia com muita atenção.
            Atrás dos meus óculos escuros, fingindo que lia, me enternecia com o quadro a minha frente. Os dois sorriam discretos na descoberta daquela aventura tão singular. Havia entre eles,  ternura e amor, e acho que foi isso que fez meu coração se emocionar.
            Após algum tempo saíram da livraria. Não compraram nada, mas com certeza, saíram mais ricos do que entraram. A fortuna, às vezes, entra por portas inesperadas.

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