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NA PISCINA

               O dia ainda amanhecia Eu nadava Braçadas cadenciadas A água azul me levava Para castelos submersos Também azuis Ninguém à vista O que me agradava  Fujo dos barulhos Como falamos alto, Crianças, adultos e velhos Nadei muito, Ia e voltava Voltava e ia Lembrava de Ferreira Gullar Por que se foi, poeta? Podia ter ficado mais um pouco Depois de algum tempo Onde tristezas e saudades Se diluíram na cadência do exercício Saí, sereia, quase Esther Williams Para um pouco de sol Olhei em volta Que paz, Não sabemos dar valor ao silêncio Oxalá um dia chegue Em que nossa educação Se mostre no tom de nossas vozes Deixei-me ficar O sol acariciava minha pele E eu pressentia a chuva que viria Foi chegar em casa E do céu caíram lágrimas pesadas Época natalina Os mortos sentem saudade E choram por nós.

A MORTE DA VELHA ÁRVORE

Não sei o seu nome Era tão linda com suas flores laranjas Ficava numa curva da estrada E quando as pétalas caíam O tapete que se formava Parecia pintura de mestre francês. Me disseram que um dia ia cair Era velha e merecia o descanso Cansada de estar sempre em pé O tempo chuvoso Raios e trovoadas cruzando o céu A velha árvore achou por bem Deixar-se levar Hoje ao passar por ela A vi no chão Cercada das bromélias que lhe enfeitavam o tronco Fiquei triste e me consolei Também eu já velha e cansada Um dia me vou. Peguei as bromélias e as trouxe pra casa Vão enfeitar troncos mais novos Até que um dia esses troncos Se cansem também E se deixem levar

VENTO

                 Cheiro de mata Folhas caem carpeteando o chão Em vários matizes Árvores se vergam Ao sabor do vento O vento é forte Assusta os cães E desmancha a trança da mulher  O cabelo voa Tomando formas inesperadas Ela fecha os olhos Ouve o zumbido do vento Numa virada Total silêncio Tão forte quanto tinha sido o vento Até assusta Parece que a natureza dolorida Pede tempo para se recompor A noite cai Uma infinidade de estrelas Ocupam o espaço celeste A  mulher E seus cães entram na casa. Fim do dia

AMIZADE COM PRAZO DE VALIDADE?

Alguém já pensou nisso? Eu começo a pensar e cheguei à conclusão que sim, a amizade pode ter prazo de validade. Quantas vezes estamos íntimos com alguém e depois de alguns anos a comunicação esfria e lá estamos nós em algum outro grupo. É bem verdade que com as redes sociais estou reencontrando vários amigos de épocas tão marcantes e fico feliz de ainda termos o que trocar. Por que também existe esse problema, nos distanciarmos tanto crescendo em direções opostas que não há mais o que trocar. Vinicius de Moraes já dizia que não se faz amigos, o que acontece é que reconhecemo-nos no outro. Pode ser, porque quando há empatia, o sentimento flui bem. Tive a sorte de ter grandes amizades e revê-las no facebook me dá grande alegria. Porém não estão ao alcance da voz ou da presença física, mas para mim já vale muito. Também é certo que tantos anos se passaram, as famílias foram se formando, e nós que éramos solteiras e descompromissadas, hoje não é bem assim. Marido, filhos e netos é

CARTA A SÉRGIO CABRAL FILHO

Imagem
Você foi preso no dia 17 de novembro. As imagens foram exibidas na televisão a exaustão, e eu pensei imediatamente no seu pai, o jornalista Sérgio Cabral e na sua mãe, a professora Magali. Sua família não era rica, modesta podemos dizer assim e seu pai muito prestigiado pela classe musical desta cidade. Como será que reagiram à sua prisão? Soube depois que seu pai está com Alzheimer, menos mal, não vai saber que um dos filhos dele, um dia motivo de orgulho, estava numa cela em Bangu 8, preso, no presidio que ele inaugurou quando na governança estadual. Cabral usufrui dos desconfortos de uma cela de dezesseis metros quadrados, com mais quatro coleguinhas, com pia, sanitário, chamado boi, que consiste num buraco no chão e uma ducha. Pra mim seria golpe certeiro na minha dignidade e privacidade, não só ser presa como fazer minhas necessidades fisiológicas compartilhando cheiro fétido e ruídos com outras pessoas Quero deixar claro que prezo muito a dignidade, mais até do que dinheiro

O ÚLTIMO SUSPIRO

                                                              Apesar do dia ser ensolarado, sua alma estava cinza. Sentado numa cadeira de balanço na clínica geriátrica ele ouvia Samuel Barber, concerto para violino.  A melodia evocava lembranças passadas. Ele se emocionou, o choro caiu de mansinho, molhando suas faces encovadas e opacas. Fez um esforço supremo para se lembrar de um passado que não queria recordar. Namorava Elisa, uma morena brejeira que era sua vizinha. Foram criados praticamente juntos num bairro sossegado de Bangu. Não eram ricos, mas viviam bem, em suas casinhas suburbanas com quintal e pequeno jardim, numa época em que a violência não se fazia presente. Elisa era a irmã do meio, de uma família de três, cujo irmão mais velho era amigo dele. Graciosa, gostava de balé e a professora via muito futuro para a menina. Seu corpo esbelto e perfeito se adequava as piruetas, arabesques e pas de chat que eram executados com maestria. Dançar era a sua paixão. Rodo

VENTO

Cheiro de mata Folhas caem carpeteando o chão Em vários matizes Árvores se vergam Ao sabor do vento O vento é forte Assusta os cães E desmancha a trança da mulher O cabelo voa Tomando formas inesperadas Ela fecha os olhos Ouve o zumbido do vento Numa virada Total silêncio Tão forte quanto tinha sido o vento Até assusta Parece que a natureza dolorida Pede tempo para se recompor A noite cai Uma infinidade de estrelas Ocupam o espaço celeste A mulher E seus cães entram na casa. Fim do dia