CARTA A SÉRGIO CABRAL FILHO



Você foi preso no dia 17 de novembro. As imagens foram exibidas na televisão a exaustão, e eu pensei imediatamente no seu pai, o jornalista Sérgio Cabral e na sua mãe, a professora Magali. Sua família não era rica, modesta podemos dizer assim e seu pai muito prestigiado pela classe musical desta cidade. Como será que reagiram à sua prisão? Soube depois que seu pai está com Alzheimer, menos mal, não vai saber que um dos filhos dele, um dia motivo de orgulho, estava numa cela em Bangu 8, preso, no presidio que ele inaugurou quando na governança estadual. Cabral usufrui dos desconfortos de uma cela de dezesseis metros quadrados, com mais quatro coleguinhas, com pia, sanitário, chamado boi, que consiste num buraco no chão e uma ducha. Pra mim seria golpe certeiro na minha dignidade e privacidade, não só ser presa como fazer minhas necessidades fisiológicas compartilhando cheiro fétido e ruídos com outras pessoas Quero deixar claro que prezo muito a dignidade, mais até do que dinheiro no bolso.
Pois é, o senhor estava metido numa corrupção que dava gosto. Foi designado chefe de quadrilha. Lula também recebeu essa designação, mas ainda não foi preso. Contabilizaram por volta de 220 milhões de propinas recebidas pelas grandes obras realizadas no seu governo. Entende-se agora porque o senhor andava tão eufórico. O poder e a impunidade foram tão aliados que o senhor se descuidou legal e deixou-se fotografar bêbado, com guardanapo na cabeça, junto aos seus amigos de lambança, num restaurante chique de Paris. E não percebeu que no grupo havia um judas, que imediatamente fotografou e mandou para o seu arqui-inimigo, Garotinho que divulgou e o país inteiro ficou sabendo.  Devia também estar comemorando o seu enricar, tão fácil, bem como o presente de 800 mil reais que Cavendish foi obrigado a presentear sua mulher Adriana Ancelmo. E estava rindo da gente, né, governador? Os babacas que lhe elegeram.
Ah, sim, tem também aquela foto ridícula das damas da turminha amiga mostrando o solado vermelho de seus Laboutins, no mesmo dia em que seus maridos estavam de guardanapos na cabeça. Noveaux riches. É muita desfaçatez. Ferra-se o povo. Na falta de pão, dê-lhes brioches. Muita gente aqui começou a pintar as solas de seus sapatos de vermelho. Muito brega essas senhoras.

Quem foi o traíra desfrutando da champanhe e do caviar, que passou a informação em cores?
Olha, quando vi as fotos senti uma vergonha ancestral. Fui diminuindo de tamanho, minha autoestima foi pro espaço, mais um pouco voava pro espaço sideral e só ia parar quando tivesse chegado na Austrália. Aquilo foi demais, e penso que foi aí que a sua imagem começou a rolar ladeira abaixo. E lhe asseguro que muita gente pensou da mesma maneira.
Pensava nisso tudo ao vê-lo caminhando para a sua cela. Passos vigorosos, cabeça altiva, graças a deus eximiu-se de fazer o V de Dirceu e Genoíno, e nem fez cenas de histeria como fez o colega de profissão, outro ex governador, preso num dia antes, e seu desafeto, o tal que publicou as fotos no seu blog, Anthony Garotinho.
Aqui se faz, aqui se paga.
Na noite de sua prisão não dormi direito. Fiquei abalada, triste com o que acontece neste país. Quase todos os políticos envolvidos com crime de corrupção. O senhor lembra que há alguns meses atrás tínhamos Eduardo Cunha, presidente da Câmara envolto em várias falcatruas, assim como o digníssimo presidente do Senado, Renan Calheiros, com vários processos contra ele no STF? Que país é esse, Cabral, que o segundo na linha sucessória é um salafrário de quinta categoria? Só mesmo nesta republiqueta de bananas que isso acontece. Como podem nos respeitar quando no Parlamento quase todo são indiciados no STF. E a Odebrecht ainda não falou tudo que sabe.
Não sei se o senhor dormiu bem na sua primeira noite na cadeia. Aventuro-me a dizer que não. Fomos dois, ou quem sabe três, quatro, o senhor tem família e filhos. Então, foi uma noite para nunca mais ser esquecida, pelo menos na sua família. A night to be rembered.  
Intrigava-me a dinheirama que foi parar no seu bolso. O que o senhor fez com tanto dinheiro? Li que sua lancha, joias, vários relógios de grife e obras de arte foram confiscados, mas deve ter ainda muito mais coisa. E parece que sua mulher também tirou uma lasquinha com seu escritório de advocacia, aumentando seu patrimônio de maneira descarada nesses anos que o senhor governava o Estado e enriquecia. Li hoje na coluna no Xexéo que ela deve ser mesmo a maio advogada do Brasil, para ter tantos clientes e ter aumentado seu patrimônio substancialmente.
Engraçado, sua separação meteórica de Adriana foi noticiada numa coluna do jornal O Globo, depois que o senhor foi preso, divulgou-se que o senhor pretextou a separação de para dar tempo à sua mulher de fazer uma escritura de um imóvel (será o do de Mangaratiba? Não lembro) Feita a escritura, voltaram às boas. Uau, que cena. Se não foi o imóvel foi qualquer outra coisa de vulto.
O senhor tem um filho deputado federal, que se elegeu claro por conta de sua força política no Estado. Lembro-me quando o senhor pediu empreguinho pra ele no serviço público. Foi farto em elogios ao primogênito. Entraria como assessor, esses aspones de merda que incham a máquina estadual, federal e municipal. O povo chiou, na seção cartas do leitor a repulsa e a indignação dos assinantes se fazia presente. Todos com filhos inteligentes e precisando de trabalho. Bem, independente dos protestos, claro que Marco Antônio ingressou no serviço público, elegeu-se deputado e hoje desfruta de um salário extraordinário, um rapaz recém saído dos cueiros. E foi cogitado para Ministro dos Esportes, neste governo Temer. Meu deus, mas como o senhor já tinha perdido sua força política, embora mexesse por debaixo dos panos, foi preterido a favor de outro filhote, desta vez o do Picciani, outro de quem breve iremos ouvir.
Enquanto tomava meu café da manhã, o senhor devia estar tomando o seu. E se deu vontade de ir ao banheiro, como fez? Teve coragem de defecar na frente de seus colegas? Desculpe-me, mas não pude deixar de pensar nisso.
A mídia falava no senhor e no Garotinho o tempo todo, dando trégua ao governo Temer e do terror econômico que paira sobre o país.
 O astuto político campista na hora da prisão pretextou estar passando mal crente que ia para um hospital privado, mas a justiça, desta vez de olhos abertos determinou que fosse pro Souza Aguiar. E no dia seguinte, o da sua prisão, que fosse transferido para Bangu. Precisava ver a baixaria da família. Foi um deus nos acuda, o campista que estava morrendo no dia anterior mostrou força e disposição que o senhor precisava ver, eram pontapés e socos pra direita e pra esquerda. De novo fui tomada daquele mesmo incômodo que senti ao vê-lo sair do carro da polícia e entrar no presídio. Não merecíamos isso. Como disse Maria Beltrão, o Rio está sangrando.  O senhor, pelo menos, mostrou classe, foi preso, não chiou e sua mulher não deu escândalo, aliás nem a vimos.
O senhor sabe que o funcionalismo público pena com seu calendário de pagamento. Mas, só no executivo, vamos deixar bem claro. Pezão, seu aliado político e agora governador entrou na Alerj com um pacote de medidas austeras e inclusive corte nas gratificações, sem ao menos submeter as medidas para apreciação. A coisa anda feia por aqui. Antes de sua prisão o senhor deve ter assistido às manifestações na frente da Alerj, um negócio feio, estamos em guerra. Pois é, o senhor ganhou tanto, duzentos e tantos milhões e seus ex subordinados guerreando para receberem seus salários e poder pagar suas contas. O que eu ganho deve ter sido o que o senhor pagou naquele restaurante francês. Bem, deve ter sido com o cartão corporativo, então, todos pagamos pelos seus extras na cidade que o senhor tanto ama. Dizem que tem até um pied-à-terre por lá. Verdade? E ainda bem que o senhor foi preso, porque imediatamente Pezão, que tinha escalonado o nosso pagamento em parcelas de até 7 vezes, resolveu rapidinho pagar duas, agora no dia 21, e pelo andar da carruagem vai pagar tudo antes do dia 5 de dezembro. E devemos isso ao senhor, porque cá pra nós, qual é a moral de Pezão agora para impor qualquer medida austera quando seu patrão ganhava por fora uma dinheirama. E ele não sabia? Difícil de acreditar.
Li que no segundo dia o senhor chorou. Espero que tenha sido de vergonha e não de raiva por não estar no conforto de seu lar.
Pois é, rápido o senhor se acostuma. Marcelo Odebrecht já está a um tempão e resiste bravamente.
Espero que seus bens sejam todos arrestados e que vão para o Estado. Um dinheirinho a mais para a turma que precisa.  Aquela turma do sem eira nem beira, que pelo menos merece de volta algum dindim para sobreviver com um pouco de dignidade.
Soube que levou um livro para ler. Bom exemplo, o livro sempre é bom companheiro. Lula sempre se gabou de nunca ter lido um livro. Péssimo exemplo. Devia ficar de boca fechada.
A mídia está fazendo uma festa em cima de sua triste sina. Hoje listou e mostrou alguns ternos bacanas daquele estilista espanhol, Ermenegildo Zegna, sob medida, com seu nome costurado num dos bolsos internos cujos custos variam entre 18 a 140 mil reais. Uau. Acredito que este modelito Bangu 8 não deve ter lhe agradado, mas tem um custo governador, e somos nós que pagamos. Muito chato isso, porque se o senhor pagou essa dinheirama para ter Zegna no seu closet, devia pagar o uniforme de presidiário, ora essa.
Chamou também a atenção a tal privada polonesa de alta tecnologia, com temperaturas variáveis para que? Para aquecer e assear as partes pudendas depois do ofício, ou para afastar o mau cheiro? Deve estar estranhando o boi do presídio, hein governador?
E o que o senhor tem a declarar sobe o incêndio do seu banco paralelo? Trans-Expert Vigilância e Transporte de valores. Vamos combinar que aquele incêndio foi muito mal explicado. O senhor me surpreendeu, nunca pensei que fosse tão sagaz.
Sou de uma época em que o nome Magalhães Pinto impunha respeito. Inclusive duas filhas do velho mineiro, José, fundador do Banco Nacional, deputado e governador de Minas, estudaram na mesma escola que eu, o Ginásio Mello e Souza. No final de conclusão do curso ginasial promovemos um baile de formatura no Monte Líbano. Maria Virgínia, a filha do político mineiro foi aplaudidíssima quando descia as escadas levado pelo braço pelo pai. Por um momento pensei que os aplausos fossem para mim, que estava à frente dela por obrigação alfabética, e ali tomei a primeira lição, os poderosos são sempre aplaudidos e bajulados. Sei agora que Paulo Fernando Magalhães Pinto é filho de Maria Virgínia. Caramba, virei testemunha ocular da História.
 Não sabia que o senhor tinha sido agraciado com a comenda Legião de Honra do governo francês. É uma baita de uma comenda. Fui no google pesquisar e encontrei o discurso de Simão Sessim, da Câmara dos Deputados em sessão no dia 15/09/2009
O SR. SIMÃO SESSIM (PP-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje é um dia muito especial para o Rio de Janeiro. S.Exa., o Governador Sérgio Cabral, se encontra desde ontem em Paris, na França, recebendo uma série de homenagens. Ontem, por exemplo, ele foi agraciado com a Légion d'Honneur, a Ordem Nacional da Legião da Honra, que recebeu das mãos do Presidente do Senado daquele País, Gérard Larcher. Trata-se da condecoração máxima dos franceses, instituída por Napoleão Bonaparte, em 1802.
Hoje, o Governador Cabral participa do lançamento do Guia Verde Michelin - 2009/2010, considerado o mais importante e renomado guia de turismo do mundo e que terá, pela primeira vez em mais de 100 anos de existência, um volume exclusivo de um Estado da América do Sul, o Rio de Janeiro.
É, sem dúvida alguma, uma vitória para o Rio de Janeiro, visto que esta importante homenagem no guia de maior prestígio do planeta servirá para incrementar o turismo e a economia do nosso Estado. Nele serão mostradas as opções de excursões para Niterói, Búzios, Paraty, Ilha Grande, Petrópolis e Vale do Café. Tudo em 3 idiomas - português, inglês e francês.
Vejam, as belezas da nossa Cidade Maravilhosa passam a ser exibidas para mais de 100 países, onde a edição do guia será editada, revelando os nossos mais famosos pontos turísticos, dicas de passeio, restaurantes e hotéis, além, é claro, de um pouco da história do Rio e de seus tesouros históricos e arquitetônicos.
E isso tudo o Rio de Janeiro deve ao esforço pessoal do Governador Sérgio Cabral, que, como muita sabedoria, convenceu a Michelin a produzir mais essa grande proeza para o Rio de Janeiro e para o mundo.
Aliás, Sr. Presidente, as homenagens que o Governador Cabral está recebendo desde ontem, em Paris, se devem ao fato de S.Exa. ter-se destacado como o grande promotor das relações entre a França e o Brasil, conseguindo, com isso, ampliar os investimentos franceses no Estado do Rio de Janeiro. E, aproveitando a deixa, Sérgio Cabral também vai reunir-se com empresários franceses, interessados que está em atrair mais investimentos para o Estado do Rio de Janeiro.
É como bem disse o Governador Cabral: o Estado do Rio de Janeiro vive hoje um momento de grande dinamismo econômico, que obviamente se reflete no significativo volume de investimentos públicos e privados, da ordem de 60 bilhões de dólares, previstos para o período 2010 a 2012.
E que Deus nos ajude e nos proteja, de forma a que possamos transformar, de fato, o Estado do Rio de Janeiro numa das grandes alavancas do desenvolvimento e do progresso deste País.
Muito obrigado.

Bem, não sei se o turismo carioca se beneficiou entrando no Guia Michelin, não vi franceses (moro em Petrópolis) por aqui aos borbotões, porém as empresas francesas foram beneficiadas com isenções fiscais. E foi para comemorar o recebimento da Comenda, e as propinas que receberia das empresas francesas, que o governador escorregou na maionese sendo fotografado tão eufórico celebrando a honra no Clube Alemão cujo proprietário é o Barão de Waldner. Acho que na cabeça dele e de seus comparsas só viam sacas e mais sacas de dinheiro. Esse Barão é casado com a brasileira Silvia Amélia, filha do cientista Carlos Chagas, e foi uma socialite badalada do Rio de Janeiro em outras épocas. Dizem que Ibrahim Sued era apaixonado por ela, e por isso estava sempre nas capas das revistas.  Seu filho, pintoso e carregando sobrenome ilustre, Marcondes Ferraz, foi preso recentemente no Rio de Janeiro por conta da Lava-Jato. Pagou fiança alta e saiu da prisão no dia seguinte.

O senhor nega todas as acusações e eu penso que todos são inocentes até prova em contrário.  Quero acreditar, preciso acreditar.
E aí surge a Nelma Sarada. Cruzes, Sérgio Cabral, haja imaginação.
Enfim, estamos todos aguardando novas notícias. Mas vou ficando por aqui.




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