A BREVE ESTÓRIA DE REGINALDO
Quando Reginaldo nasceu, sua mãe tinha dezesseis anos e o pai dezoito. Moradores da periferia de São Gonçalo viviam ao léu e nem o primeiro grau conseguiram terminar. Colegas de colégio e vizinhos, o romance floresceu. Muito jovens sonhavam um futuro que jamais poderiam ter. Mas, mesmo assim, sonhavam.
A gravidez acontece sem Shirlei saber como. Nuns amassos com Vanderley a coisa esquentou e de repente sentiu um calor líquido escorrer pelas suas coxas. "Tirou o meu cabaço". pensou perplexa com a rapidez do ato. Esperou para ver. A menstruação não interrompeu e ela então, relaxou e não deu muita importância ao fato, que diga-se de passagem, não voltou a acontecer. Mas, quando viu a barriga e os seios crescerem, já estava de 5 meses, e virgem.
Com o apoio da família de ambos se casaram na igreja e no civil. Já que uma criança estava a caminho, que viesse direito seguindo os padrões da decência. Eram pobres, mas dignos e respeitosos.
Reginaldo cresceu fortão e cabeludo. Os avós encantados com a criança não mediram esforços para lhe dar o mínimo necessário, mesma que isso custasse várias horas extras em serviços de quinta categoria.
Reginaldo era bonito demais. Parecia uma menina.
- Tão bonitinha ! Como se chama?
- É menino. Reginaldo.
Isso incomodava Vanderley.
- Shirley, esse menino parece menina. Você tá mimando ele demais. Crie esse guri como homem. Todo mundo acha que ele é menina.
- Mas ele só tem 4 anos.
- E daí? Rua Reginaldo, vá brincar nem que seja com o cachorro da vizinha.
Ao completar oito anos o pai já sabia que o filho era maricas. E não conseguiu conviver com isso. Batia-lhe por nada e perdia as estribeiras quando Reginaldo chorava.
- Cala a boca viado, menino não chora.
A situação foi piorando com os anos. O menino se ressentia da fúria paterna. Refugiava-se no aconchego materno. Mostrava-se um filho afetuoso, sempre pronto a lhe pentear os cabelos, a se vestir, e a se maquiar com o pouco que tinha. Não gostava da escola e muito menos de estudar. Gostava de desenhar, de usar os vestidos da mãe e de saltos altos. Estava num corpo errado. Queria ser mulher, e já era no comportamento, no gestual.
Aos quatorze anos fumou seu primeiro cigarro de maconha. Deixou-se levar pelo mundo das drogas e passou a consumi-las freneticamente. Em troca dava seu corpo adolescente. Gostou. Passou a traficar, vestido de mulher. O pai descobriu. Quase o matou de porrada.
- A próxima vez que te encontrar vestido de mulher e com essa merda, te mato, escuta bem.
Encontrou e matou.
A mãe ao ver o corpo do filho estirado no meio da sala, se jogou desesperada em cima dele. Desvairada pela dor murmurava:
- Ele só tinha dezoito anos. Como pode fazer isso? É seu filho.
- Era bandido. Prefiro ver ele morto do que ter um filho viado, traficante.
Na hora do enterro um problema apareceu. Não podiam enterrá-lo. Não tinha documentos. Os pais nunca registraram seu nascimento em cartório. Morreu como indigente numa vala qualquer.
Baseado em fatos reais
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