B12

Não havia quem não gostasse da B12. Estranho nome, não é mesmo? Mas era esse mesmo. A moça adorava uma injeçãozinha B12. Pra levantar, ela dizia. Aliás, era fanática por qualquer pico. Viciada em tudo que desse barato, B12 vivia drogada. Morava no baixo Leblon, e todas as pessoas que frequentavam aquele pedaço a conheciam. Vez por outra se metia em situações embaraçosas, mas logo vinha a turma do deixa-disso, dava uma força e coisa e tal, enquanto outros fingiam que nada viam.
Mas houve um dia em que me preocupei. Estava tomando um chocolate quente no Cafeína, quando ela parou defronte a uma mesa onde estava um rapaz sozinho e impôs sua presença com gestos obscenos e palavras de baixo calão. No auge de seu discurso desconexo, derrubou uma cadeira, perdeu o equilíbrio e foi ao chão. A saia minúscula que vestia, prendeu na cadeira e se rasgou inteira. B12 de calcinha e sutiã à mostra, ria às gargalhadas. Logo seu exército de amigos e simpatizantes se pôs em marcha para ajudá-la. Uma toalha virou saia, sentaram com ela numa mesa e diligentemente um jarro de água gelada e copo postos na mesa.
B12 continuava rindo e falando alto. Com o andar titubeante se dirigiu para o seu carro que estava estacionado na frente do café. Não tinha absolutamente condições de dirigir e fiquei pasma com a atitude blasé de sua patota. Nenhuma voz se levantou para impedi-la ou mesmo alertá-la do perigo ao qual estava se expondo e expondo e a quem na frente dela tivesse o azar de passar.
Entrou no carro e deu a partida.
No dia seguinte abri o jornal na página de obituários.
Nada.
Milagre.

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