A MASSAGEM

Os dedos percorreram o corpo exposto ali, em cima da mesa, nu, embora a alma estivesse completamente vestida. As mãos do massagista, competentes e macias, deslizavam sobre tronco, quadris e membros, inferiores e superiores. Sem pressa eles foram encontrando os pontos nevrálgicos que faziam padecer aquele corpo flechado por dores incômodas. O silêncio profundo pairava sobre a sala, na penumbra. Nenhum inseto voador se atrevia a quebrar a monotonia pesada daquele ritual. As mãos continuavam o seu trabalho e o corpo se permitia ao desfrute. Dedos invasores penetravam em grutas sombrias, talvez a procura de alguma luz, mas a tarefa se revelava difícil, ali não era permitido qualquer delírio desbravador.

O corpo mantinha-se em cima da mesa esticado, tenso no seu pudor, tal qual corda de violino prestes a arrebentar. Um acorde mais afoito colocaria a melodia em risco, e cabia ao maestro não permitir tal descalabro.

Os dedos continuaram seu caminho, escrevendo uma música silenciosa apenas captada pelo corpo.

Ao final, corpo e a alma se levantaram e saíram juntos, nus, esquecendo que um dia usaram roupa.

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