TIGRÃO

A turma da academia de ginástica era muito legal. Malhavam sempre no mesmo horário, e, com isso, a convivência foi se estreitando, se solidificando e ficaram, todos, muito amigos.

            Quando Marinalva, louraça, sarada, boa de bunda, começou a frequentar a academia naquele horário particular, a confusão se instalou. As mulheres mais velhas se sentiram enciumadas e ameaçadas pelo corpo escultural da moça e os homens, então, enlouqueceram em cadeia, fazendo fila na sala de musculação, levantando e arriando pesos empenhadíssimos em exibir os dotes físicos desenvolvidos para a beldade recém-chegada. O horário, antes calmo, ficou abarrotado, e um professor, em especial, querendo impressionar a loura, mandou tatuar um tigre Dente de Sabre na lateral esquerda do trono. Assim que a tatuagem ficou pronta, o professor criou coragem, e marchou para a sala de pesos livre, envergando um short vermelho e uma camiseta tipo regata, bem justa ao corpo. Nós, que estávamos num papo sem fim sobre nada,  paramos de falar e olhamos para aquela entrada triunfal do professor,  tão em desacordo com a timidez do próprio. Pareceu-nos um gladiador adentrando numa arena romana. Marinalva, de bunda pra cima, exercitava-se com caneleiras. O danado para bem em frente a ela, enrola a camiseta, deixa o tigre bem à mostra, pega um pesão, e começa a levantá-lo, devagar. O felino se mexe. O rapaz para de vez em quando e o tigrão também. E assim foi. Movimentos precisos do ginasta, movimentos sinuosos do tigre, como um pas-de-deux bem ensaiado. A academia parou. Todos fascinados acompanhando a dança dos felinos. Num determinado momento, ouvimos um grito. Assustados, gritamos também. No meio da confusão e do alvoroço, vimos Marinalva, que entorpecida e alucinada com a coreografia corporal do criador e sua criatura, voou pra cima do professor, com uma corda na mão. Rápida, passou-a pelo pescoço do rapaz, derrubando o coitado e fazendo-o ficar de quatro, enquanto cavalgava o tigre, enlouquecida de histeria e prazer. Apavorados com a mudança de cor do montado, corremos todos e, a muito custo, conseguimos tirá-la de cima dele. Nunca mais vimos o tigre em ação, e Marinalva, decepcionada, foi pra outra academia.