SE EXISTIU, NINGUÉM SABE, NINGUÉM VIU

 

 

Livre de amarras Ana comandava seu mundo. Aparentemente frágil e doce, era uma fortaleza inexpugnável, nem os pais lhe tinham acesso, desde pequena. Educada e reservada trafegava no seu mundo, aparentemente sem precisar ou compartilhar suas emoções, gostos ou mesmo revelar inseguranças ou emoções. Também era pragmática, enfim uma mulher fascinante. Gostava de mulheres, mas o desejo de parir falou mais forte e se pôs a campo para escolher o parceiro.

Lúcio era um sujeito pacato, assim de primeiro até assexuado, mas sob o prisma de um olhar mais aguçado era de uma feminilidade tocante. Também ele gostava de moços.

Ao se conhecerem a química aconteceu. Foi numa rodada de chope num bar do Leblon, que Ana numa virada de cabeça o encontrou, solitário, numa mesa de canto. A mesa em que ela se encontrava estava animada, o álcool já fazendo efeito. Seu olhar se cruzou com o de Lúcio; ela levantou seu copo, e num gesto mínimo, quase imperceptível, lhe convidou a vir para a sua mesa. Ele sorriu de leve, levantou sua elegância da cadeira e com passos de bailarino se aproximou e puxou uma cadeira. O efeito foi imediato. É com ele que vou ter o filho.

Apaixonaram-se, as famílias ficaram radiantes com a descendência assegurada.

O filho não veio de imediato. Desfrutaram dos prazeres do sexo, da intimidade, viajaram, tudo custeado por Ana, uma profissional de respeito. Lúcio era músico e artista bissexto, para ele Ana foi um achado em todos os sentidos, bonita, endinheirada, bemposta na vida.

Depois de alguns anos, ela engravidou e Lourenço nasceu belo, forte e perfeito.

O senso da maternidade fazia com que Ana se dedicasse mais ao filho e menos ao marido, que se ressentiu. E a cada dia a relação deles mudava. Lúcio se chateava, se acostumou ao bem bom e pressentia que seus dias de fausto terminariam em breve. E não gostava, seu instinto de sobrevivência falava mais alto. Decidiu se tornar invisível, quem sabe assim poderia se perpetuar naquela casa, como se fosse um móvel usado ou utensílio doméstico.

Começou um trabalho impecável em se fazer invisível. Ana tendo perdido seu apetite sexual por ele, não se deu conta de seu desaparecimento. Interessou-se pela babá, que além de eficiente com Lourenço ainda lhe prestava favores de cama e mesa. Esse sim, o casamento perfeito.

 

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