PEDRO, O SAPO

            Ele me olhou, eu o olhei e gritei. Sai, sai, e peguei a vassoura. Ele continuou me olhando, em guarda, ambos assustados um com o outro. Consegui varrê-lo para fora da casa. Com cuidado, porque tenho respeito por qualquer ser da terra, racional ou irracional, com penas, sem penas, com patas ou com pernas. Ele se cagou de medo e pequenas fezes sujaram o chão. Gritei de nojo, entendi o seu pavor, porque também eu não estava no meu normal, mas limpei tudo e fechei a porta. Não o vi por alguns dias, mas eis que num domingo ensolarado, lá estava ele no centro da sala, relaxado em cima do tapete, assuntando em volta. Dessa vez nem me assustei. Enxotei-o mais uma vez, e ele saiu saltando de um jeito engraçado pela porta. São feios os sapos. Outra feita se postou na porta me olhando fixamente. Os cachorros o ignoravam solenemente e eu passei a não me incomodar com a sua presença. Estabelecemos um elo de intimidade e comecei a chamá-lo de Pedro. Ele passou a ser presença constante no jardim. O que mais gostava de fazer era apreciar a noite. Ficava por lá, os cachorros passavam por ele, eu me despedia, fechava a porta e no dia seguinte, ele achava um jeito de aparecer, meio escondido, atrás de um saco ou encostado num vaso de plana.

            Numa manhã, quase que esbarro em Pedro, postado nas escadas que dão para o andar de baixo, saltando desesperadamente para subir e retornar ao caminho que ele estava habituado a trilhar. Com a ajuda da providencial vassoura fi-lo descer todos os degraus. Ele achou o seu caminho e ficou por lá mesmo, e nunca mais o vi. Deixou saudades Pedro, o sapo.

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