VÉSPERA DE NATAL

                      

                Depois de longos meses de chuva quase que contínua, o tempo deu uma trégua. Ainda chovia na véspera de Natal, os acidentes nas estradas se sucediam, cidades amanheciam alagadas, aqui e no mundo e Euclides se perguntava quantas cidades teriam possibilidades de sobreviver após tantas catástrofes. Não queria ser testemunha ocular daquilo que o amedrontava tanto: o  fim de cidades devastadas pela água. Que morresse antes.
            Era um excêntrico, não gostava de festas, não dava muita importância às datas, como essa – Natal-  por exemplo, mas celebrava o seu aniversário com uma alegria genuína. Por anos a fio passava a data sozinho, feliz desde a hora em que acordava até quando ia dormir. Preparava o café da manhã com todas as gostosuras que gostava; encomendava o seu prato predileto no restaurante mais sofisticado do bairro, e que viesse acompanhado de um bom tinto francês, e sempre ganhava a sobremesa de brinde. Não convidava ninguém, muitos dos amigos já tinham morrido e ele não tinha se empenhado em fazer novos. Divertia-se comendo, bebendo e brincando com os seis cachorros que se espalhavam pela enorme casa.
            Mas, hoje, véspera de Natal, Euclides estava melancólico. Uma melancolia feliz, apesar do contraditório. Melancólico na sua infinita solidão, mas feliz por ainda poder apreciar a quietude do dia, da chuva caindo e da paz ao redor. Nenhum barulho, a natureza descansava.

            No dia seguinte, dia 25, Euclides estava euforicamente feliz. O sol banhava o riacho que corria atrás de sua casa, iluminava a casa, o jardim com sua luz luminosa em raios quentes e aconchegantes. Foi para a cozinha preparar suas refeições. Não era o seu aniversário, mas festejava como se fosse. Ao final do dia, leu um pouco, assistiu filmes na televisão e se recolheu cedo. Amanhã seria um novo dia. E o outro também e assim sucessivamente, até um dia que essa rotina se acabaria.

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